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Um mundo povoado de sonhos

Quem é o jovem da esquerda em luta de bricadeira em 1925? O pai do Batata.

O Luís Carlos (Batata) nasceu em 16 de Setembro de 1940. O pai, Honório Garcia Palma, nascido em 1908, morreria em novembro do mesmo ano, dois meses após o nascimento do único filho. Honório, terceiro filho homem do coronel Honório Palma, herdaria o apelido da hierarquia familiar da época, Tenente. Isso porque os irmãos mais velhos, José e Manoel, já haviam incorporado os apelidos naturais daqueles tempos, respectivamente Major e Capitão.
O Batata, filho único de um fazendeiro e empreendedor bastante respeitado, seguiu na vida garimpando histórias e causos da sua maior paixão; o pai que não conheceu em vida. Falava constantemente no pai e referia-se a ele como Tenente, até para estranhos, as vezes sem citar coisa alguma, como se todos soubessem quem foi Honório Garcia Palma, o Tenente, morto de febre amarela aos 32 anos em 1940.
As histórias que ele apresentava envolvendo a figura do pai eram, na maioria, recheadas com a fantasia típica dos fãs incondicionais, coisa mais natural.
Pelos relatos de muitos contemporâneos do Tenente que entrevistei ao longo do tempo, de fato era um homem respeitadíssimo pela bondade e a determinação dos que almejam subir na vida.
O texto a seguir foi escrito pelo Batata em 8 de Setembro de 2002.


No engenho da Usina Barra Grande era fabricada, além do açúcar, a famosa aguardente Colar de Pérolas.
O alambiqueiro Jose Severino tinha verdadeiro orgulho da qualidade do produto pelo qual era responsável. Era sabido que nem o proprietário, Honório Garcia Palma, o Tenente, podia dar palpites na fabricação daquela pinga. Quando isso acontecia, Severino emburrava feio.
A usina ficava a poucos quilômetros da cidade de Serrana (SP), logo depois do rio Pardo. Na época, ano de 1939, não havia ponte e a travessia era feita numa balsa. Esta dificuldade não impedia um transito razoável de pessoas e entre elas, pelo menos uma vez por semana, estava o Zé Macaco, o "pinguço – mór " da região .
Zé Macaco possuía o apelido não porque tivesse alguma semelhança física com o animal. Quando era menino, o seu pai capturou um macaco prego e o bicho virou estimação. O menino Jose Aparecido logo se querenciou do animalzinho. Acostumou a andar com ele encarapitado no ombro. A dupla ficou conhecida na cidade e não demorou muito a surgir o apelido. Os dois eram um sucesso nas vendas onde os trabalhadores bebiam o aperitivo depois do trabalho. Não era raro eles ganharem uma bala, uma pedrinha de rapadura, um naco de lingüiça ou qualquer outro petisco. O menino começou, cedo, a freqüentar as vendas .
Jose Aparecido era um bom rapaz, porem fazia tudo para tirar o corpo fora do trabalho. Preferia ser um sonhador. Na verdade, a sua principal fonte de renda era capturar e vender passarinhos. Nisso era mestre. Aos vinte anos ele se apaixonou, mas o pai da Matilde, sabedor da fama de folgado do rapaz, proibiu energicamente o namoro da filha. Aparecido nunca mais namorou. O tempo foi passando e a cachaça tomando conta.
Aos trinta anos só tinha a mãe como parente vivo. Ela era uma lavadeira respeitada e bem, ou mal , ia levando a vida dos dois. Amava "por demais" aquele filho. Sempre arranjava uma desculpa para as extravagâncias que ele praticava. Enfim, mãe é mãe.



Quinta-feira, lá pelas nove horas da manhã, o Zé Macaco chegou tão discretamente que perceberam a sua presença, só depois. O pessoal não dava muita confiança para ele. Napoleão, o gerente das máquinas, já o havia enxotado varias vezes. "Lugar de vagabundo pingaiada é na cadeia, levando surra cedo e de tarde". Zé Macaco não se importava e estava sempre voltando. Naquele dia, Napoleão passou perto, olhou firme mas não disse nada.
O "tempo" fechou de repente e a tempestade chegou arrebentando. Um raio atrás do outro. Um deles ignorou o para-raios da chaminé e estrondou no galpão onde eram guardados os tonéis de pinga. Cinco tonéis de cinco mil litros cada. Aquele que ficava mais próximo do canto onde o raio caiu, arrebentou. Foi uma correria, mas Graças à Deus, ninguém se machucou. O pessoal foi conferir os estragos e o Zé Macaco junto. No piso estava formada uma poça de pinga. Uma poça grande. Zé Macaco, ajoelhado, encostou o beiço e bebeu de talagada. O pessoal, mesmo para espantar o susto, começou a gargalhar. O coitado levantou os braços e quase gritou:
--- Hoje eu morro, mas morro na fartura.


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