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Aquele cheiro de café.



Lavoura de café na fazenfa Bela Vista, paisagem marcante na vida do Batata
por Luís Carlos Castro Palma - escrito em 30 de Abril de 2002

O cheiro de café coado chegou forte e ativo no ar do quarto, vem lá da cozinha. Incontáveis seis horas insones dentro da memória difusa imposta por uma má noite. Quase não se mexeu na cama, porém o pequeno movimento despertou o cheiro da urina. Estava acostumado. Pessoa de uns sessenta e cinco quilos, esqueleto contado, não era muito alto no tamanho do comprimento. Mesmo deitado ainda conservava aquele jeito estudado do gavião que abre as asas depois de pousar no galho e olha, desafiador, o derredor: “Não sou dono, mas só piso onde mando”. Antigamente dentro.
O coronel começou a reparar naquele moleque chutando, com raiva, a barriga do bezerro que demorava a se levantar quando o mesmo olhava para o tal. Mostra de valentia em tão tenra idade? Jeito de intolerante dominador? Sadismo? De uma maneira ou de outra, o próprio somava ou diminuía no comportamento do moleque.
O Batata em 2008

Cavalo arreado e com vistoso pelego vermelho. Cavalo visto nascer e amansado por ele da brabeza até chegar no ponto da confiança de não estufar barriga quando a barrigueira era apertada. Ingo, nome de Severino, o antigo menino já carregava vinte e seis anos. Capataz, trazia as boiadas de recria que vinham para a engorda nos pastos da fazenda próxima ao frigorífico de Andradina. Respeitado, adquiriu aquela atitude de gavião, Nos pousos e nas corruptelas a sua alma tinha a fama de um poço manso na superfície que escondia, no profundo, a coisa que pessoa alguma gostaria de ver com a cabeça fria. Nessa vida, labutou até perto dos quarenta e cinco anos.
Voltou para a fazenda no Sul de Minas. Na época, viúvo e sem filhos, não desgrudava da companhia do velho patrão. Deus no céu e, no inferno Lúcifer. Nos quatro lados pisados no chão estava o coronel. Tomou as maneiras da cidade mas o revolver, sempre na cinta, mantinha a sua confiança baguala dos tempos antigos.
Ano de política. O cheiro da pólvora dos foguetes chamou a sua irmã dos revolveres. Era a mesma nas narinas abertas pela paixão. Ele matou dois. Uma bala acertou a sua espinha dorsal. Quase morreu. Ganhou, na aposentadoria, um pequeno e bem formado sitio perto da cidade Viuvou duas vezes. Antoninha, filha do seu segundo casamento era quem cuidava dele. Sua boa casa fica na beiradinha da estrada. Gosta de ficar alpendrando e vendo as pessoas passarem. Certo o alguém no bate-papo .dos assuntos amenos. Ele acha uma maneira de incluir a sua frase já famosa: “O coronel sempre me respeitou como homem”.



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