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"Boi Véio", volta na saudade.



Walter Braz Soares (1926 – 2003), conhecido por Boi Véio, foi um grande amigo do Batata, como de muitos. Ao falecer, em 2003, o Batata escreveu sobre a perda do amigo. O texto está na íntegra, fechado em 27 de fevereiro de 2003.

Lembrar as histórias do “Boi Veio” sempre é refrescante e bom . O nosso amigo já se mudou definitivamente para algum ranchinho lá no Céu, mas a sua lembrança continua locada entre nós. Ele, sem dúvida, marcou as pessoas com quem conviveu .
Na cidade, aparecia pouco, pois, como ele mesmo dizia, o seu ranchinho é o melhor lugar que Deus colocou no mundo para um caipira viver. Chegava depois do almoço e, logo, ia procurar seus amigos. Levar a sua alegria de alma limpa. Recebia, com nobre humildade, alguns presentinhos. Muitas vezes trazia os seus próprios presentes: uma dúzia de suculento limão galego, um macinho de hortelã ou de "alho de folha, um saquinho de tenros quiabos, duas ou três raízes de mandioca vassourinha que nem precisava ser cozida para fritar. O seu maior orgulho era presentear uma das suas famosas cabeças de repolho que chegavam a pesar oito quilos. Aliás, ele era capaz de dar tudo o que pouco possuía. Assim: se alguém lhe pedia emprestado o isqueiro haveria de enfrentar resistência para devolve–lo. O “Boi Veio” tinha uma máxima: É melhor ser do que ter.
Ele nasceu em Itamogi, MG, filho de família abastada. O pai, perdeu fazendas no jogo e empobreceu. Os filhos tomaram rumo. Walter Braz Soares foi se defender na cidade de São Paulo. Trabalhou como mecânico e metalúrgico. Fez Teatro. Viveu certo tempo em Paraitinga. Voltou para a região e trabalhou na roça. Foi se isolando até estabelecer uma casinha, quase rancho, fincada no sitio do sr Quirino Gatti, em Santo Antonio da Alegria. Virou o querido Boi Véio, homem que possuía a alegria de pertencer à Humanidade.
Ensinava uma receita de chá para a dona Filhinha, sentados a mesa da copa. Lucia, a copeira, serviu uma tigelinha de curau geladinho. Boi Véio recitou: Curau é doce bom, feito do milho mole. Enquanto como, comigo ninguém bole. Alegria, alegria. No fim, ficávamos os dois para contar lorótas. Esse dia, ele saiu com essa: Imagine, dia desse o sol estava muito forte que me avermelhou os zóio e coçava que parecia pimenta. De noite, já deitado, a coceira voltou. Acendi a lamparina e fui no caixotinho procurar o frasquinho de água boricada. Errei e passei água oxigenada. Ardeu valendo dois. Lavei, e passou. Perguntei: E daí, Boi, não deu problema depois? Armou aquele sorriso de lobo guará: Que nada. Só que pra mais de mês, quando eu olhava uma moça bonita, meus zóio escumava.




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